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SEGUIDORES DE CAMINHADA

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

APRENDENDO A PERDER O MEDO

Aprendendo a perder o medo.

Nas reminiscências de minhas lembranças, não sei precisar quais mais antigas são algumas palavras, que embora curiosas, impregnaram-me marcas profundas. Foram guias permanentes no tatear a vida. Uma delas era a palavra “capeta”. Lembro-me dessa palavra quando eu estava num quarto, deitado numa das camas, a conversar com outras crianças, especulando coisas desconhecidas. Do outro mundo. Talvez tenha sido a primeira vez.

Olhava para o teto da casa de minha madrinha (avó), já no escurecer do dia e minhas vistas vasculhavam aquelas armações de madeira que sustentavam as telhas, para ver se nalgum lugar tinha algo estranho. O que procurava eu não conhecia, mas as imagens vinham e faziam-me cobrir a cabeça de medo.

Quando me lembrava delas, servia de advertência para não fazer nada errado. Jogar uma pedra num passarinho, por exemplo. Lembrança hipotética.

Mais tarde, na escola da cidade, em aula de religião, estava de novo a aprender sobre o capeta, e também sobre anjo da guarda. Só que aí já haviam figuras desenhadas. Então as coisas já tomavam formas.

Era o mesmo assunto enraizado bem lá atrás, na roça, longe do mundo civilizado.

Muita pesquisa para fazer daí para frente, na busca frenética para entender aquelas razões. Primeira comunhão, missas, livros, ouvir os representantes de Deus na Terra, acreditava neles, beijando suas mãos.

O tempo vem passando, e mesmo sem trilhar rumo à cátedra, acredito ter assimilado e ao mesmo tempo desmistificado o sentido do bem e do mal.

Sempre a busca constante de saber. Saber, saber, saber. Cada saber mais requintado do que outro. Alguns vieram em letras douradas. Mas a resposta sempre estava recheada por mistérios. A resposta está além das letras para os comuns da Terra. Quem quiser saber mais profundo, deve trilhar caminho longo e estreito do saber.

Mas, durante a vida, muito embora não fosse palavra de uso comum para esse assunto, já existia aquilo que hoje chamamos de pirataria. Nada mais do que isso. Pirataria do conhecimento. A cátedra estava descida dos seus altos altares. Isto é, os assuntos tornavam-se cada vez mais comuns, atiçados por homens livres com seus saberes, que ao invés de torná-los mito, preferiram sanear o caldeirão, para torná-lo suportável.

Então, aquele medo já não é mais medo, pois não preciso mais cobrir a cabeça.

 

Juiz de Fora, 31 de agosto de 2010,
Evaldo de Paula Moreira
Contos de Amor

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