Desenho ilusão, fantasia, por Evaldo. |
Na casa do vale.
A chaminé soltava pequena nuvem de fumaça na cor acinzentada vinda do fogão à lenha.
Ainda não estava na hora de preparar o jantar, mas as brasas mantinham-se acesas e brandas, apenas o bastante para aquecer algumas panelas, entre elas a de feijão cozido, a de broa de milho, e outra com água morna.
O fogão foi aceso bem cedinho para o café da manhã, logo no raiar do dia, junto com o despertar dos passarinhos que cantarolavam por todos os lados. Ouvia um trilar daqui, outro dali, como se estivessem a dar início a uma sinfonia. Em seguida todos apareciam afinados, anunciando que o dia ficara pronto para a nova lida.
Assim também viviam os moradores daquela casa antiga, cujo assoalho era feito de tábuas largas, menos a cozinha de chão de terra bem batida e nivelada, de modo que não soltasse resíduo de poeira.
Sempre havia alguém levantando mais cedo, como os passarinhos.
Colocava os primeiros gravetos de lenha no fogão que permanecia aceso o dia inteiro, às vezes até um pouco mais tarde, para aquecer também a casa, por causa do frio, antes que todos fossem dormir.
Ainda era menino, mas já havia mudado para a cidade quando passei alguns dias de minhas férias escolares naquele lugar chamado Arruda, um pequeno vale do Córrego São Pedro onde vivia uma de minhas tias com sua família.
A noite chegava e logo apareciam de mansinho as estrelas no céu. Com a lua cheia clareavam-se as árvores, mostrando sombras sobre as relvas.
Sem televisão e radio, apenas curtia as histórias que minha tia contava naquele vale encantado.
Entre as muitas histórias que ouvimos haviam as de assombração. Causavam suspense sim, porém, estavam longe de serem pesadas como são nos tempos atuais algumas versões dos contos de fadas que passam nas telas de cinema e televisão.
Apertavam um pouquinho os corações infantis para exercitar a imaginação, somente isso. Afinal, a curiosidade era grande para saber dessas coisas.
Assustou-me uma folha meio avermelhada com formato de uma orelha grande, de animal. Apareceu no meio do mato, ao anoitecer, quando brincava no terreiro com meus primos e minhas primas.
Nem olhei para trás: corri para dentro de casa. Todos correram, acreditando no aviso daquele susto convincente. Sem dúvida era uma assombração.
Minha tia se encarregou de ouvir nossa história; todos tínhamos um parecer sobre o caso, que foi elucidado somente no dia seguinte, pois, nenhuma criança se encorajou a sair de dentro de casa.
O melhor de tudo foi que o assunto enriqueceu aquela noite com muitos outros casos contados, cada criança querendo dar mais expressão e autenticidade em sua história.
Há tantas coisas que emocionam a vida das crianças. Entre elas estão as boas histórias, mesmo as que são mescladas com fantasias, que naturalmente serão trabalhadas e dissolvidas na própria brevidade da infância.
Evaldo de Paula Moreira
Conto de infância