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quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

Fotos de uma borboleta e texto "Entrevistando a mim mesmo"

                   

                        Parece uma folha seca, mas é uma borboleta              
                        que pousou no teto de minha sala.





“Entrevistando a mim mesmo”.

Visitando as salas.
(Elas estão no corredor da memória).


 ...

- Sei lá, entende?

- Parece que sei, mas de repente não sei se sei.

- Não, não é “matrix”.

Memória?

- As salas guardam as memórias, sim, mas a massa onde as salas ficam creio que é apenas um ponto material, de ligação com o imponderável, no nosso cérebro.

Coisas físicas que armazenam coisas extrafísicas?

- Sei, não, sabe?

- Dizem os estudiosos que temos bilhões de neurônios, mas tudo continua em investigação, porque sempre surgem novidades.

- Bom, mas não é isso que desejo falar agora.

- Nem responder o que não sei, nem responder o que não tenho certeza.

- Apenas figurativamente quero dizer que gosto muito de visitar uma das salas do corredor da minha memória.

- Esta sala é a sala da alegria, lá da minha infância, não a da alegria de agora, que existe também, porque o mundo é repleto de coisas belas. Mas a do agora falarei em outro momento.

- Nela está escrito: entrada proibida para a tristeza.

- Se existe sala de tristeza nesse corredor?

- Existe, sim, mas não ligo para ela. Ela não me faz mal nenhum e também não me traz nenhuma alegria. Apenas entro lá para fazer alguma pesquisa, quando necessária.

- Na sala da alegria, a alegria está garantida, por isso escrevo meus contos de infância.

- Bom... Hoje, naturalmente já se incorporaram muitas salas no meu psiquismo. 

- Existe, sim, uma sala no corredor, espelhando o que acontece agora. Fica bem na esquina da vida que fervilha. Haja fé pra suportar tanta coisa que vemos. Quando era pequeno, entretanto, aprendi a ver o suor no rosto das pessoas trabalhando sob o sol quente nas roças, ou pingando gotas de águas da chuva.

- Os animais também suavam no trabalho e se molhavam na chuva.

- Mas não me lembro de nenhuma tragédia, talvez por ser criança e lá na roça meu mundo era tão pequeno, embora parecesse infinito...

- Sim, havia rezas para súplicas, mas também para agradecimentos.

- Na sala do agora é tudo imenso e muito difuso. Há o belo, tem a natureza magnífica onde se luta uma luta desigual para não acabarem com ela. Pelo menos há uma conscientização de que é preciso preservá-la e recuperá-la. A fonte não é inesgotável e estamos todos interligados. A natureza não é nossa propriedade, somos parte dela.

- Se penso no progresso?

- Ah, sim, claro.

- A humanidade construiu e inventou tantas coisas...

- Entre elas a internet que é maravilhosa.

- É como uma imensa floresta, maior ainda, para ser conhecida.

- Mudou muita coisa, na vida, de modo geral.

- Perderam-se algumas referências...

- Destaca-se o bullying nas escolas, as drogas...

- Os trotes violentos...

- Bom, não vou generalizar, pois assim estaria vendo tudo maléfico, o que não é verdade, mas compreendo o que a maioria compreende: o mundo precisa descobrir outros caminhos.

- Mas, não é fácil ser criança. É preciso que os pais, ou outras pessoas onde elas possam se espelhar estejam sempre presentes na vida delas, amigas, como nunca se precisou tanto. Aliás, todos os adultos deveriam dar bons exemplos para qualquer criança.

- As informações e imagens chegam a tempo real em todos os lugares, muitas delas sem controle algum.

- reformulam-se os conceitos de vida, e ao mesmo tempo perdem-se valores importantes.

- Parece que a liberação é geral. Estuda-se um controle aqui, outro ali, mas, esse mar de comunicações em geral, é imenso.

- E o nosso dia-a-dia também, com a globalização das informações e das ideias, numa sociedade moderna, de produção e consumo em alta escala, onde o foco é a propriedade e a posse, deseja-se o ter cada vez mais, esquecendo-se de difundir o conhecimento do ser.

Por que você escreve tanto sobre a infância?

- Porque foi uma fase feliz da minha vida.

- Tanto no campo quanto na cidade pude contar com liberdade e espaço: no campo, espaço da natureza; na cidade, espaço das ruas, onde se podia andar com liberdade e sem medo algum.

- Respeito, amizade pelas crianças eram coisas naturais.

Tem mais algo a dizer?

- Muita coisa, mas o principal delas é dizer que é preciso mais difusão, mais debate desse assunto, dedicação, com relação às crianças, porque elas serão o futuro do mundo e esse mundo terá mais chances de ser feliz se começar feliz, lá na infância. As sociedades colherão amanhã o que semearem hoje. Colhemos hoje o que semeamos ontem. É preciso melhorar.

- A sala da alegria deveria fazer parte de todas as salas do corredor de nossas memórias, assim como a incorporação definitiva de todos os valores conquistados através dos tempos.

Juiz de Fora, 28 de janeiro de 2012.
Evaldo de Paula Moreira
Fotos  - borboleta  - Entrevista – “Entrevista” comigo mesmo.

10 comentários:

Paulo Bouvier disse...

Nossa que bonito1

Ana Cecilia Romeu disse...

Evaldo, meu amigo,tudo bem?
texto muito inteligente!
Confesso que li duas vezes rsrs

Nossa memória têm salas ou compartimentos, como links que podemos acessar ou não, ou que às vezes são acessados involuntariamente... o bom seria se todas essas salas sempre nos levassem a felicidade, ou sensações de alegria, não é mesmo?
Muito bom!

Amigo, te agradeço pelo comentário por lá, sempre inteligente e detalhista! Um privilégio de meu espaço contar com tua participação. Obrigada!

Grande abraço!

Bento Sales disse...

Oi, amigo Evaldo!
As borboletas são belas.
Parecer com folha seca é um disfarce para se esconder dos predadores.
Esse diálogo íntimo é de muito alto nível e contempla todas os nossos anseios e nossas mazelas.
Somente nosso alter ego para nos compreender e para entender mundo e a vida.

Parabéns pela criatividade!

Abraços do amigo!

Zélia Cunha disse...

Boa noite, amigo
Como é bom estar aqui e encher os olhos e a alma com textos ricos em detalhes. Lindas borboletas! Isto prova como a natureza é sábia e usa de todos os recursos para se proteger, assim como alguns animais que fazem do mimetismo uma arma de defesa.
Quanto as salas, meu amigo, gosto muito de estar e visitar essa da alegria que nos remete ao tempo da simplicidade. Bons tempos, infelizmente muitos dos nossos jovens não tiveram o privilégio de visitá-la.
Parabéns pelo belo texto!
Abraços

Paulo Bouvier disse...

Convido-lhe para ler e comentar meu último post:

http://paulobouvier.blogspot.com/2012/02/o-que-me-inspira.html

Obrigado e abraços.

Elisa T. Campos disse...

Magnânimo.
Perfeito diálogo entre o entrevistador e o entrevistado.
Me alegrou a manhã com tão lindas reminiscências.Estas ficarão na sala do corredor espelhado e enfeitados de flores. Oxalá pudéssemos deixar arquivados para sempre as mais tristes e as que ainda virão.
Mas, tantas coisas mudaram,não é?
Ainda bem que no meio desta tristeza generalizada, ainda podemos ver muito belo. E o belo através de você, meu amigo.
A volta ao túnel do tempo na simplicidade da vida do campo que também vivi.Colhendo mexericas do pé, brincando à beira do rio entre peixinhos e girinos, enfim vivíamos com o pé no chão. Ah!!! se
pudéssemos começar tudo de novo e mostrar às crianças de hoje os valores esquecidos.

E você talentoso entrevistado tem algo mais a dizer?

BOM DIA

Evaldo disse...

Oi, Elisa.
Bom dia.
Há tanto o que dizer...
O que admirar e agradecer.
Entre esses tantos dizeres e agradecimentos estão os reservados às suas benevolentes palavras, fruto de vivência e sabedoria, que reveste com belas embalagens os pequenos trabalhos postados aqui, quando de suas vindas. Posso dizer que é o seu ser a produzir os belos haicais e tantos pensamentos bons que também se ocupa em olhar para fora de si mesma ajudando-nos a fortalecer fonte que busca aprender a compreender e amar a diversidade da vida.
Abs.

Jacques disse...

Olá Evaldo, como vai?
Andei fora da blogosfera por um tempo e estou de volta.
A saudade dos amigos blogueiros é grande, mas aos poucos vai passando.
Excelente texto o seu, repassando tudo o que vivestes, sentistes e guardastes na alma e no coração.
Nós mudamos todo o tempo e as experiências que vivenciamos nos tornam melhores, assim, nós as guardamos em arquivos mentais para futuro uso.
Desta forma tudo aquilo que vivenciamos passa a ser parte de nós, queiramos ou não.
Sobre a borboleta ser parecida com uma folha, isso se cham mimetismo homotípico e homocrômico, e, como o amigo Bento já citou, serve para esconder os insetos dos predadores.
Abraço, Evaldo, e tudo de bom.

Evaldo disse...

Olá Jacques, tudo bom?

Obrigado pela presença, comentando o que apresentamos de alma e coração, interagindo conosco nos rabiscos de pensamentos e sentimentos.

Alegra-nos o seu retorno.

Grande abraço Jacques, e tudo de bom para você também.

MA FERREIRA disse...

Poxa...eu quase que tinha perdido este seu post.
Texto maravilhoso e muito inteligente
como disse a Cissa.
Quantos quartos na nossa vida heim?
Como vc bem escreveu.
E quantos ainda a serem descobertos.
Aqueles que estão no escuro e a gente
nega em querer ve-los?

parabéns..amei seu texto...