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SEGUIDORES DE CAMINHADA

sábado, 2 de julho de 2011

Fazer nada.



Foram muitos os momentos que andei pelas estradas de terra, quando menino. Acompanhado ou sozinho, por conta do fazer nada.
Era chamado de menino andejo.
Olhava os passarinhos, as folhas das árvores e muitos outros bichinhos.
Formigonas e formiguinhas.
Algumas eram guerreiras e outras, mas essas outras iam buscar comida lá na cozinha, na casa que também recebia outros bichinhos. Eram formigas boazinhas.
As doceiras que também gostavam da doce rapadura.
Outras coisas eu também olhava, aproveitando o fazer nada.
De vez em quando, ajudava juntar e carregar alguns galhos secos que acendiam o fogão. Mas, isso, não era nada.
A lenha mesmo, que cozia o feijão, era lascada por outros, com o machado.
Ficava intrigado, porque havia por lá um homem que também se chamava Machado.
Dessas coisas, no começo, não entendia.
Só ficava por conta do fazer nada.
Lembro-me que um dia não conseguia escapar de cima de um disfarçado formigueiro, daquelas formigas miudinhas, chamadas lava-pés. Só sabia chorar e pisotear, sem sair do lugar.
Um tio que também tinha um nome incomum, chamado Soninho, foi quem me socorreu.
Aprendi a lição: tem formiga que mesmo pequena, morde. E dói muito.
O socorro do meu tio também ficou guardado como lição: aprendi a guardar gente no coração.
Às vezes questiono o significado do nada.
Se nada fizesse, não me lembraria de nada.
Nem da interação com a chuva, com o Sol, com o chão, com todos os seres viventes: da casa, do chão, da terra, da água, do mato.
Nem do olhar de gente.
Do cão que lambia os beiços, olhando-nos, pedindo comida.
Não teria como escrever meus pequenos contos.
Nem cercar-me das dores, nem onde se guarda o amor.
Nem aliviar-me das dores ou cobrir-me de alegrias, nas minhas poesias, e nas dos outros, quem sabe?...
Será que viver a vida de criança por conta do nada é não fazer nada?

Brasília, 02 de julho de 2011.
Evaldo de Paula Moreira
Contos de amor.