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SEGUIDORES DE CAMINHADA

sábado, 14 de agosto de 2010

MEUS PÉS DE BARRO


Chuva e terra: barro!
Na estrada de terra ficavam as listras fundas das rodas de madeira circuladas por aros de ferro.
De vez em quando acontecia um atoleiro. E o jeito do homem da roça lidar com o costumeiro trabalho de correr as estradas, em tempos chuvosos, era colocar mais tração nas rodas conforme o peso que os carros de bois carregavam. Arroz, feijão, milho e toda ordem de alimentos. Era tração animal: os bois, claro.
Andavam em duplas e quanto mais peso, mais duplas, acorrentadas umas às outras, fazendo fila. E o carreiro tinha de conhecer os bois, um por um. O tamanho, a força, mais lento ou mais apressado, mais manso ou mais impetuoso, para formar a dupla certa, no lugar certo. Chapéu de palha na cabeça, pés descalços e lá vai o carro de bois, guiado pelo carreiro e seus companheiros. Não faltava o canto das rodas, preparadas para anunciar a passagem do carreiro.
E o menino se divertia com a natureza, mais brincava do que trabalhava. Era um treino, para ser um futuro bom carreiro. Mais companhia do que trabalho.
Que era bom amassar barro, isso era.
Quando íamos fazer tijolos para construir uma casa, o processo era amassando a terra com os pés, misturando com água até formar uma liga. A terra tinha de ser tirada do lugar certo, para dar a liga certa, depois eram repassadas às formas, para serem secadas ao sol, que se transformavam em tijolos.
O contato com a terra era a coisa mais natural do mundo, então, para o menino escorregar no barro de brincadeira, que delícia! Tudo no seu momento, claro. Diferente da cidade, onde menino não pode ficar descalço de jeito nenhum porque logo adoece. Ou mesmo adulto.
O terreno para plantar arroz, era pantanoso, precisava sempre estar descalço. Arroz do brejo. Usava-se botina também, o que protegia os pés, mas o barro sempre estava presente, inclusive nas mãos.
Banho? De bacia, com sabão, redondo, feito na roça mesmo.
Sobe morro, desce morro, os pés enfrentavam o barreiro feito pelas chuvas, ou então a poeira, deixada pelo sol.
Não tinha outro jeito, a terra queria sempre estar conosco, onde quer que fossemos.
É nossa amiga a vida toda e ainda nos abriga, em nosso fim de vivência terrestre.
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Juiz de Fora, 13 de Agosto de 2010.
Evaldo de Paula Moreira
Contos de Amor

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