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SEGUIDORES DE CAMINHADA

segunda-feira, 19 de abril de 2010

Homem ou estátua?





Homem ou estátua?
A poeira do asfalto levantava.
O sol estava quente, e a fuligem das chaminés da cidade tornava a paisagem tosca.
Momento propício para pensar um pouco na civilização em que vivia.
Aliás, admirava muito o “progresso” das cidades.
Quanto mais asfalto, quanto mais indústrias, quanto mais prédios altos (que motivo de orgulho!), carros (naquela época desejava ter um) mais digna a vida parecia.
Dentro de um ônibus, observava a paisagem, e o trânsito estava cheio de veículos, o que ainda é comum nas marginais do rio Tietê.
Comigo viajava um parente, e o nosso destino era a cidade de Itapira, no interior do Estado de São Paulo.
Íamos visitar um amigo que aguardava uma visita qualquer, na clínica de repouso onde se encontrava.
Indagava, a mim mesmo, por qual motivo ele ficara assim, tão desbaratado da mente.
Esperava encontra-lo melhor, quem sabe totalmente recuperado, e pronto para continuar sua vida digna, como sempre foi.
O que a vida queria tirar dele? De todos os tidos como doidos deste mundo?
Voltando a falar, no entanto, naquele ônibus, naquele dia ensolarado e também enfumaçado, olhando a paisagem da cidade de São Paulo, cutuquei meu companheiro de viagem com o cotovelo, para mostrar-lhe uma figura, que parecia uma estátua. Ele riu, devido à surpresa que também teve. Exclamou admirado: é um mendigo! Não! É uma estátua! Abrandou a voz e disse: é um homem, deve ser louco, talvez, ou um mendigo.
O fato é que ele estava parado como estátua. Era alto, e sua roupa estava turva, igual fuligem. Mantinha um saco pendurado nas costas, seus cabelos e barba eram grandes e esvoaçados, porém, estáticos, por causa da fuligem. Parecia, mais, com uma estátua mesmo. Com certeza ganharia um prêmio se estivesse participando de um concurso de originalidades. Era, entretanto, um ser humano que estava ali, com toda a grandeza de qualquer ser, resistindo às intempéries da vida.
Acredito que ele queria atravessar aquela avenida, em lugar inadequado, beira de asfalto, perigoso, esperando por um momento que nunca chegava, mas ele era um mendigo, certamente acostumado a todo desconforto.
Sempre admirei os mendigos, não por imaginá-los desgraçados, ou loucos, mas por senti-los corajosos em desafiar a sociedade, por vezes injusta, por continuarem vivendo, apesar das impurezas químicas e bacteriológicas que os rodeiam. Não é isso que os matam, e sim, os próprios homens, mas aqueles de sentimentos impuros...
Juiz de Fora, 21de agosto de 2009
Evaldo de Paula Moreira
Contos de Amor